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Praça de wi-fi vira espaço para produção artística de jovens no Grajaú


Jovens acessam internet para produzir música no Grajaú. - Foto Tamires Rodrigues

A cada 30 minutos o sinal do wi-fi é reiniciado pelo serviço gratuito da Google Station, as novas estações de acesso ao internet grátis que estão sendo implementadas pela cidade de São Paulo em parceria com a empresa global de serviços de informação e tecnologia. Durante esse período, um grupo de jovens que ocupam o Calçadão Cultural do Grajaú, na zona sul de São Paulo desfruta do uso de aplicativos de streaming de música, mensagens instantâneas e de produção de texto para dar vida a uma paixão que os une: letras e batidas de rap.

O Wifi livre está disponível em 120 praças e parques da cidade. No Calçadão Cultural do Grajaú, o acesso a internet grátis se torna mais um elemento de conexão da juventude local com a efervescência cultural que existe no distrito. Ali rolam shows, intervenções poéticas, batalhas de rima, peças de teatro e muito mais, devido à existência de uma série de artistas que movimentam o calçadão e o Centro Cultural do Grajaú, um espaço público de cultura que está integrado à praça.

“Aqui na praça é o point”, afirma Matheus Silva de 18 anos, um jovem freqüentador da praça e morador da região. Uma das coisas que ele mais gosta de fazer na praça é encontrar a galera e mandar suas rimas, pra isso ele da uma salve nos amigos pelo whatsapp logo quando o wifi conecta no seu celular. “Às vezes a gente chega sozinho e usa internet pra chamar os parceiros”, descreve Silva sobre sua rotina no local.

Contrariando o interesse de muitos jovens que estão espalhados pelo Calçadão Cultural com olhares fixados no smartphone, Silva enfatiza que não curte tanto as redes sociais e sim gastar suas atenções na sua maior paixão: o rap.

Ele conta que um dos aplicativos que mais usa são o Google Música e o WordPad para escrever todos seus pensamentos naquele exato momento e que podem ser transformados em letras de rap. “A bateria do celular vai toda com um beat, a gente esquece do whatsapp”, explica o jovem, sobre o impacto da concentração na produção musical para enviar e responder mensagens dos amigos que estão a caminho do seu encontro.

Juntos com seus amigos ele produz músicas de rap e faz apresentações ali mesmo no Calçadão Cultural, enquanto estão elaborando novas letras. Um dos parceiros de Matheus nesse processo é o jovem Davi Ferreira, mas conhecido como Kovu, com 17 anos.

Kovu é integrante de um grupo de Trap da região: o Graja Atlanta. O Trap, estilo musical que mescla música eletrônica e Hip Hop tem ganhando a juventude com suas batidas e letras. Ele conta que escreve desde 12 anos de idade só por diversão e essa brincadeira acabou virando profissão. Há dois anos, o jovem está rimando e produzindo músicas.

Davi relembra que um dos shows que ele fez e que mais o impactou foi realizado no Centro Cultural do Grajau, aonde tudo começou. “A primeira vez que toquei aqui foi muito magico, foi outras ideias sabe.”

A partir destas experiências culturais, o ponto de acesso ao wi-fi vai além do papel de viabilizar o acesso a internet, fazendo com que a juventude local tenha um ponto de referência para se conectar e produzir arte.

“Você vem aqui pra dar uma desbaratinada e usar o wifi, mas sempre ta tendo alguma coisinha aqui, sempre tem alguma atividade: um sarau ou um pessoal vendendo uma arte. Aqui é o ponto de referência do role todo sabe”, descreve Davi ao lado de um grupo de jovens entusiasmados com as produções que eles estão elaborando na praça de wi-fi.

Em 2019, o Centro cultural do Grajaú completa cinco anos desde a inauguração do espaço que tem mais de três mil metros quadrados e uma grande diversidade de atividades artísticas.

O jovem Matheus resume o seu apreço pelo local ressaltando a importância que a Praça possui para viabilizar momentos únicos para exercício de diferentes formas de enxergar a vida. “A gente adora aquele momento que a gente pode ter liberdade de expressão, ser quem a gente é sabe? Expressar o que a gente quer expressar, falar tudo que a gente pode, sem diferenças e aberto pra todo mundo.”

Esse grupo de amigos, que também são artistas, jovens e moradores do Grajaú estão subvertendo a lógica de individualização das relações oriunda do consumo da internet, utilizando o Wi-Fi como meio para construir pontes e se conectar fisicamente com outras pessoas para fazer sua arte.

Para a juventude que frequenta o Calçadão Cultura do Grajaú, a internet está a serviço da preservação das suas relações humanas, criando vínculos e laços afetivos, por meio da cultura Hip Hop. Com uma expressão alegre e de consciência coletiva sobre o que aquela Praça de Wi-Fi representa para eles, o grupo de amigos entoa: “aqui é a concentração da nossa quebrada, todo mundo que faz rap cola aqui, todo mundo.”

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